sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Carta 10

Recebida depois do dia 1º de dezembro de 1880

TEMAS:

PRECONCEITO – CUMPRIR  PROMESSAS – ORGULHO – SINCERIDADE – MESMERISMO – VONTADE – FRATERNIDADE UNIVERSAL – BLAVATSKY NO TIBETE
 

SOBRE A CARTA (postada por G.Melo)


PRECONCEITO e as consequências disso:

A primeira parte da Carta (quase duas páginas) está destinada ao tema que podemos chamar PRECONCEITO.
 
Aqui, o Mestre reforça o que já disse na Carta 5, onde pergunta a Sinnett: "Meu bom irmão, você tem certeza de que a impressão agradável que você pode ter agora, ...., não seria instantaneamente destruída ao me ver?"
 
Nesta Carta 10, o Mahatma se refere a si mesmo como um "negro". "Poucas pessoas, ou talvez ninguém (claro que há exceções...) consentiriam jamais em ter um "negro" como guia ou líder, assim como nenhuma Desdêmona moderna escolheria um Otelo indiano". (As aspas na palavra negro são do Mestre, provável referência a diferença entre a cor do indiano e do africano)

Lembra também a crítica do Visconde de Amberley sobre o "Jesus mal-educado". E que a maioria dos anglo-indianos, entre os quais "o termo hindu ou asiático está geralmente ligado a uma ideia vaga, embora perceptível, de alguém que usa os dedos em vez de um pedaço de cambraia e que renuncia ao sabonete, iria, certamente, preferir um norte americano a "um tibetano sebento"."

É importante, para o estudo investigativo, lembrar que um teosofista inglês descreveu o Mestre K.H. da seguinte forma:

“O Mestre Kuthumi usa o corpo de um Brâmane da Caxemira, e tem uma aparência (compleição) tão boa quanto a da média dos homens ingleses. Ele tem, também, cabelos soltos, e Seus olhos são azuis e cheios de alegria e amor. Seus cabelos e barba são castanhos, os quais, sob a luz do sol, tornam-se avermelhados com reflexos dourados. Seu rosto é um pouco difícil de descrever, pois Sua expressão está sempre mudando quando Ele sorri; o nariz é finamente talhado, e os olhos são grandes e de um maravilhoso azul claro.”

É por isso que, se procurarmos as imagens dos Mestres no Google, sempre encontraremos homens de olhos azuis. Em outras palavras, Jesus com turbante. Ainda em outras palavras, seres cuja “compleição” seja tão boa quanto a dos homens ingleses: olhos azuis, nariz finamente talhado, cabelos que, à luz do sol, apresentam reflexos dourados. Evidente que a aparência dos indianos era incompatível com o que se espera de um mestre espiritual, na avaliação preconceituosa dos homens ocidentais.

Daí deduzirmos que o preconceito talvez seja um dos maiores desafios do homem ocidental que deseja encontrar o verdadeiro caminho espiritual. Ao mesmo tempo em que é desafio, é também uma armadilha.
 

CUMPRIR AS PROMESSAS

Um segundo tema abordado diz respeito à promessa que Sinnett fez de publicar o episódio do “broche”, como foi conhecido, e que está descrito em carta anterior, no jornal do qual era editor: The Pioneer.

Mas Sinnett não cumpriu a promessa. A demora em fazer essa narrativa resultou em um grande problema. O Cel. Olcott resolveu mandar uma carta com essa estória, acrescentando   os nomes dos envolvidos no episódio fenomênico. Um outro jornal se apropriou da carta e a publicou com críticas ferozes a H.P.B. As pessoas citadas não ficaram satisfeitas, naturalmente. O jornal se recusou a publicar uma defesa, que acabou sendo aceita por um terceiro jornal.


Foi, realmente, um episódio infeliz, sobre o qual o Mestre ainda não havia comentado efetivamente. Nesta Carta 10 ele o faz: “Se você tivesse sido o primeiro a fazer o relato, o Times of India nunca teria publicado “Um dia com a Senhora B.”.....”...vendo que você permanecia silencioso, nosso valente coronel sentiu a mão coçar até que trouxe tudo à tona, e – mergulhou tudo em obscuridade e consternação.”

Não podemos deixar de refletir sobre a relação causa – efeito: ao demorar em cumprir o prometido, Sinnett desencadeou uma série de efeitos indesejáveis.

Parece-nos que aqui está uma preciosa lição teosófica: a importância de analisarmos, com a atenção plena, o entrelaçamento de nossas ações e atitudes, para desencadearmos efeitos positivos e benéficos, ao invés do contrário.
 

Hume e o estereótipo do orgulho

Há uma evidente pergunta ou comentário de Sinnett ao Mahatma K.H. para uma troca súbita de assunto, que começa dessa forma: “Não discutiremos, no momento, se os seus fins e propósitos são tão profundamente diferentes dos do Sr. Hume; mas, sim, se ele pode ser estimulado por uma “filantropia mais pura e ampla”.”

É importante, antes de dar continuidade, comentar que as colocações do Mestre sobre o Sr. Hume devem ser compreendidas muito além daquela personalidade, mas trazida para os dias atuais e  nos contextualizar sobre nós mesmos. Existem muitos “Humes” entre nós. Pode existir um Hume escondido dentro de nós. Esta é uma personalidade comum. Cada um deve fazer a escolha de refletir sobre isso e verificar se não está inserido nesse estereótipo de ORGULHO.

Diz o Mestre sobre Hume: “O modo que ele escolhe para trabalhar e alcançar essas metas nunca o levará além de considerações teóricas sobre o assunto. É inútil tentar descrevê-lo de outro modo agora. A carta dele, que você logo lerá, é, como digo para ele, “um monumento ao orgulho e ao egoísmo inconsciente”.”

Continua o Mestre: “....sua atitude é a mesma: uma teimosa determinação de fazer com que tudo fique de acordo com suas próprias conclusões prévias ou eliminar o assunto de um só golpe com críticas irônicas e negativas. “

 
Motivação egóica x sinceridade

O Mestre afirma que Sinnett está agindo "mais por egoísmo do que por um amplo sentimento de benevolência pela humanidade". Mas, como ele  (Sinnett) reconhece isso e não monta qualquer pretexto filantrópico, o Mestre diz que a possibilidade de que Sinnett aprenda sobre ocultismo é maior do que as do Sr. Hume.

Vemos o Mestre colocar a sinceridade como um natural ingrediente para chegarmos ao ocultismo, mesmo que as motivações egoístas ainda não tenham evoluído para motivações altruístas. Seria a sinceridade mais difícil de obter como virtude do que a mudança de sintonia, do egoísmo para o altruísmo? Algo a ponderarmos e responder individualmente.


Mesmerismo

Sinnett parece forçar para obter do Mestre sinal verde para avanços em direção ao ocultismo. O Mestre fala na necessidade de se possuir “germes”, afirmação que fica um tanto hermética. Em seguida fala em “renúncia”, mas diz que isso seria tão inútil quanto cruel. Tampouco fica clara essa passagem.

Entretanto, completa, dizendo a Sinnet: TENTE. É a segunda carta em que ele incentiva Sinnett a tentar algo, mas, nesta, ele é específico: "Não se desespere. Una-se a vários homens e mulheres decididos e faça experiências com mesmerismo e os costumeiros fenômenos denominados "espirituais". Se agir de acordo com os métodos recomendados pode ter certeza de que, no final, obterá resultados". (as aspas na palavra espirituais são do Mestre)


Uma vontade forte

Diz o Mahatma: “Uma vontade forte cria situações e a simpatia atrai até mesmo os adeptos, cujas leis normais são antagônicas à mistura com o não iniciado.” (o itálico é do Mahatma)

O assunto ainda era o incentivo que ele dava a Sinnett de tentar, junto com outras pessoas,  a prática do mesmerismo.


Fraternidade Universal

Pela primeira vez, temos um conceito claro do que seja a FRATERNIDADE UNIVERSAL. Diz o Mahatma: "...uma associação de "afinidades" de forças e polaridades fortemente magnéticas, embora diferentes, centradas em torno de uma ideia dominante. O que um não consegue fazer - muitos, juntos, podem alcançar."


Força necessária para ser um Teosofista

Em uma passagem pequena, mínima, o Mahatma dá uma dica de grande importância. Ao comentar que os melhores espíritas britânicos poderiam, com orientação adequada, virem a ser teosofistas. Mas dois deles não parecem "ter a força necessária". 


Blavatsky no Tibete

É aqui, nesta carta, quase ao final, que podemos ver o registro de que H.P.B. realmente esteve no Tibete, fato que é possível não apenas ter se repetido, como se transformado em um exercício de se encontrar com seu Mestre, que sabemos ser Morya. Essa conclusão pode ser inferida pela resposta do Mestre a Sinnett sobre a impossibilidade de H.P.B. dar instruções práticas a Sinnett:

“Mas eu temo que ela gora tenha uma necessidade extrema de passar uma temporada recuperadora de alguns meses nas geleiras, com seu velho Mestre, antes que possa ser encarregada de tarefa tão difícil.”
 

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