quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Carta 5

Recebida em 03 de novembro de 1880


Temas:

PRECONCEITO – COMPROVAÇÃO DE FENÔMENOS – VALORES MORAIS E ESPIRITUAIS – FRATERNIDADE E MORALIDADE – DETURPAÇÃO DA APARÊNCIA DO MESTRE


Sobre a Carta (postado por G. Melo)

Na contextualização dessa Carta, há três questões importantes que vale a pena destacar.

A primeira deve-se a um desencontro de ações. Sinnett ficou de publicar o episódio da almofada. Como demorou, Olcott escreveu sobre o episódio citando o nome das pessoas presentes. O jornal Times, da Índia, descobriu a cópia dessa narração e publicou, com comentários injuriosos. Damodar (que era um discípulo), destinatário da narrativa de Olcott, escreveu um protesto que o Times se recusou a publicar. Contudo, o jornal Gazette de Bombaim publicou uma vigorosa resposta de H.P.B. sobre quem recaiu a responsabilidade, pois as pessoas citadas ficaram descontentes com a publicidade. Esses fatos, que geraram uma “crise” na ST, nos remetem ao tema CUMPRIMENTO DE PROMESSAS.

A segunda questão foi uma sequência de troca de correspondências, na qual o Mahatma parece que desejava dar a Sinnett mais uma prova de sua existência. Sinnett enviara uma carta registrada para H.P.B. para ser entregue ao Mahatma K.H. (um complemento a nota sobre o episódio da almofada). H.P.B. recebeu a carta registrada em 27 de outubro e a mandou imediatamente, por meios ocultos, às 14 horas. O Mahatma a recebeu às 14h05.  Como estava dentro de um trem na região atual do Paquistão, desceu na primeira estação e mandou um telegrama comunicando o recebimento da carta, que está datado e arquivado pelo agente de telégrafo. O Mestre instrui H.P.B. a devolver o envelope da Carta a Sinnett, que o guardou e, mais tarde, entendeu: a data e hora do registro da carta versus a data e hora do telegrama mostram que a carta só poderia ter sido entregue ao Mahatma por meios ocultos. Estes fatos nos falam da produção de FENÔMENOS como prova da existência dos Mahatmas.

A terceira refere-se a uma série de comentários do Mahatma sobre a questão da raça e cor, bem como a cultura dos ingleses que, à época, dominavam a Índia. Em seus argumentos o Mestre expõe a questão de sua própria legitimidade para os ingleses, visto que eles – “os melhores Adeptos, os mais eruditos e os mais santos são das raças dos ‘tibetanos sebentos’”. Trata-se do tema recorrente: PRECONCEITO.

 
REFLEXÕES

Esta é uma Carta extremamente rica. Nunca é demais lembrar que a carta de Sinnett não é conhecida. Podemos deduzir o tema pelas respostas do Mestre, algumas delas de cunho administrativo, acerca da condução da ST, o que frequentemente nos causa alguma perplexidade. Embora estranho para nós, é preciso ter em mente que o Mestre responde  tudo que Sinnett pergunta/questiona/argumenta. Essa troca permitiu a nós, homens e mulheres do século XXI, acesso a temas da mais absoluta relevância teosófica. Outra observação é sobre a comunicação elegante e fluente do Mahatma, que usa frequentemente argumentos filosóficos. Nesta carta (5), ele vai tocar em algumas questões primordiais para o desenvolvimento espiritual, tais como valores perdidos pela sociedade ocidental.

Para facilitar a reflexão acerca desta carta, ela será dividida por alguns dos temas encontrados:

 
O episódio da almofada e o cumprimento de promessas.

Sinnett ficou de publicar o episódio da almofada, mas não o fez. (O relato mais detalhado está acima.) A responsabilidade pelo vazamento da lista de pessoas e a publicação desonrosa do Times recaiu sobre H.P.B. Ela, então, pede socorro ao Mahatma. Este estava em algum lugar do Tibete quando os “telegramas” de H.P.B. (comunicação por meio oculto) chegam até ele como “pedras lançadas por uma catapulta”. K.H. faz um comentário brincalhão ao dizer, sobre Blavatsky e seu “telegrama”, que “nossa amiga não tem a resignação filosófica de um Marco Aurélio” (uma alusão ao estoicismo, corrente filosófica praticada pelo imperador Marco Aurélio). O Mahatma ainda é sutil  quanto ao fato de que Sinnett, se tivesse cumprido a promessa de publicar o episódio da almofada, nenhum problema havia acontecido. Em carta futura o Mestre abandona o sutil para ser mais explícito, embora sempre elegante.


Modos de entrega acelerada

O Mahatma registra que a carta de Sinnett foi recebida em Amritsar no dia 27 de outubro, às 4 horas da tarde, chegando-lhe às mãos cinco minutos depois, cerca de 48 km além de Rawalpindi. O Mestre telegrafa de Jhelum (local de parada  do trem em que se encontrava) acusando o recebimento às 4 horas da mesma tarde. Comenta, então, com Sinnett: “Nossos modos de entrega acelerada e comunicações rápidas não são, como vê, desprezíveis do ponto de vista do mundo ocidental.....”

Esforço, Dedicação e Imparcialidade

Ao discorrer sobre a carta do Cel. Olcott a Damodar (discípulo), roubada pelo jornal Times, acerca do episódio do broche, o Mestre K.H. aproveita para expor alguns valores. Enfatiza o esforço e a dedicação do Cel. Olcott: ...um homem capaz de “dormir em qualquer cama, trabalhar em qualquer lugar, confraternizar com qualquer pobre sem casta, suportar qualquer sofrimento pela causa....”.  “Onde poderíamos encontrar dedicação igual?”

Apesar dessa dedicação, o Mestre dá demonstração de profunda imparcialidade, ao reconhecer que Olcott não deveria ter ligação com a loja anglo-indiana.

Forma definida pelo Mestre para o funcionamento da ST

O desejo de Sinnett e Hume de manter a loja anglo-indiana independente da Sociedade matriz não foi aceita pelo Mestre. Criar essa independência seria “dar um golpe mortal na Sociedade Teosófica”. O correto seria manter a ligação, embora sem interferência dos fundadores. Essa parte do texto revela os primórdios da política acerca das lojas teosóficas. Elas são autônomas, mas não independentes da Sociedade em si.

Homens e não Mestres de Cerimônia

A carta é iniciada com uma menção às “convenções do mundo vazio”, o que tem muito pouca importância para os Mestres.  K.H. está dando um feedback positivo a Sinnett, uma vez que eles (os Mahatmas), afirma K.H., buscam HOMENS e não MESTRES DE CERIMÔNIAS, homens que apenas observam regras sociais, “cada vez mais um formalismo morto [está] ganhando terreno”. O Mestre afirma sentir-se “feliz em encontrar um aliado inesperado num setor em que não houve muitos.....entre as classes cultas da sociedade inglesa”.

Preconceito versus Respeito

O assunto continua sendo a proposta de Sinnett e Hume de criar uma loja anglo-indiana sem a ingerência dos fundadores da ST (H.P.B. e o Cel. Olcott), com a orientação direta do Mahatma K.H.  Nos textos já citados, o Mestre rechaça a independência da loja anglo-indiana da sociedade matriz e mantém “uma supervisão executiva puramente nominal” dos fundadores, lembrando que Olcott era um homem da mesma raça dos ingleses. Mesmo assim era desagradável aos olhos de Sinnett e Hume. É esse o ponto que é utilizado pelo Mahatma para fazer uma reflexão maior. “...vocês seguramente se rebelarão contra a orientação de um hindu, cujos métodos e costumes são os de seu próprio povo, e cuja raça, .....vocês ainda não aprenderam sequer a tolerar, para não falar de amar e respeitar.”

E faz uma comparação: “.....você sabe que o leão é proverbialmente uma fera suja e agressiva, a despeito da sua força e coragem”, frase que alude aos modos dos “melhores adeptos, os mais erudito e os mais santos [que] são das raças dos ‘ tibetanos sebentos’.”

 “Meu bom irmão – diz o Mestre, para completar seu argumento – você tem certeza de que impressão agradável que você pode ter agora, ....., não seria instantaneamente destruída ao me ver?”

Por que Sinnett e Hume teriam uma má impressão ao ver o Mestre pessoalmente? Certamente, porque ele tem a aparência de um hindu. Na carta 10, ele vai utilizar a palavra “negro”, assim, entre aspas, o que confirma sua descrição de si mesmo, um complemento à descrição dos “tibetanos sebentos”, obviamente na visão dos ingleses. Ainda diz de si mesmo: “”morador de cavernas, de aquém e além dos Himalaias”. A má impressão derivada do preconceito completou-se: (a) pela cor da pele; (b) pelos hábitos de higiene diferenciados; (c) pela raça  diferentes do biótipo inglês; (essa lista é maior!)

Mas o preconceito ainda era maior do que o Mestre descrevia. No século seguinte um autor descreveu o mestre como "loiro, de olhos azuis, cabelos castanhos que brilhavam à luz do sol", com uma aparência "tão boa quanto a da média dos homens ingleses".

 
Fraternidade e Moralidade

O Mestre encerra a carta dizendo que a “expressão “Fraternidade Universal” não é vazia de significado”, pois “é a única base segura para uma “moralidade universal”.” O que vem a ser a aspiração do “verdadeiro adepto”.

Observação: A fonte é sempre a correspondente Carta dos Mahatmas. Muitos trechos são copiados, mas a fala do(s) Mestre(s) serão apresentadas sempre "entre aspas".




Nenhum comentário:

Postar um comentário